MADRI - ESPANHA, SITUAÇÃO POLÍTICA...
09-06-1991  -   11-06-1991 

A capital espanhola mudou muito desde a minha última visita, em 1975.
Está infinitamente mais cara, mais sofisticada. Àquela época pairava a dúvida cruel sobre o destino da Espanha depois da morte do ditador Franco. Havia a dúvida quanto a uma provável balcanização do país, a iminência de uma guerra civil, com bascos e catalães buscando sua independência, galegos e andaluzes tentando a sua autonomia. Mas a solução colocada pelo Pacto de Moncloa permitiu a volta do rei e as eleições livres, dando lugar ao parlamentarismo, com um líder socialista.
O exemplo revolucionário de Portugal deve ter permitido aos espanhóis uma reflexão serena, a maturidade e a sensatez política deu lugar à negociação e conciliação.
Hoje, com a entrada da Espanha na Comunidade Econômica Européia, vive-se um processo acelerado de câmbio e de modernização, um pouco a reboque dos acontecimentos continentais.  O apelo à modernidade, à implantação de padrões mais rígidos de produtividade e qualidade, o industrialismo integrado, trouxe uma vitalidade aos setores produtivos e acadêmicos.

Há quem veja esse alinhamento automático como uma renúncia ao nacionalismo, aos valores próprios. Sem dúvida.
Muitos deploram a nova ordem, com a certeza de que os países fortes do Mercado Comum Europeu  — Alemanha, França, Inglaterra — são os que ditam as normas, mas também são os que liberam recursos crescentes para a integração política e econômica. E não há mais como recuar (como chegou a pensar, ou a vacilar, a poderosa Inglaterra).

Madri cresce, aparecem edifícios pós-modernos por toda parte e investe-se pesadamente na pesquisa e na formação de recursos humanos.
O ideologismo da Guerra Civil Espanhola, o esquerdismo e o heroísmo são coisas de um passado recente, ainda latente, mas destinado à superação. Em seu lugar — o pragmatismo, o neoliberalismo, o capitalismo hodierno,     o livre comércio, o mercado aberto, a livre concorrência. Sinal dos tempos.
Embora ainda persistam as bombas terroristas das facções bascas, algumas vozes descontentes, relutantes em ensarilhar as armas, os ânimos, mantendo-se em uma ação guerrilheira suicida...
Não obstante, vivi dias muito tranquilos na Madri de meus sonhos... 

Na imprensa e na televisão o tema inquietante era a  temporada 1990-91— a 89ª do Real Madrid Club de Futebol e a 60ª temporada consecutiva do clube na primeira divisão do futebol espanhol.